A Camerata Bardi

A ópera pode ser considerada uma das formas de arte mais completa que existem, pois envolve música, dança e teatro. Surgiu basicamente como consequência da vontade que alguns intelectuais do século XVI tinham de resgatar o teatro grego. Foi em torno do Conde Giovanni Bardi de Vernio, que se reuniu o grupo de artistas que passou á história como a Camerata (Camerata Bardi), mais uma das muitas “academias” que floresceram na Itália do século XVI ao XVIII.

Discutiam filosofia, ciências e artes e, em especial, as relações de umas com as outras. Porém o assunto predominante era a música, debatida do típico ângulo renascentista e neoplatônico: de que maneira restaurar o poder que ela possuía, nos tempos clássicos – assim se acreditava -, de suscitar, guiar ou dominar emoções específicas. Faziam parte da camerata Vicenzo Galilei, pai do famoso astrônomo e físico Galileu, G. Caccini, G. Zarlino, os poetas Chiabrera e Rinuccini, J. Corsi, entre outros.

Em seus estudos Galilei constatou que os gregos não conheciam a escrita contrapontística e nem harmônica e baseavam-se em uma única melodia que tinha o poder de afetar os sentimentos do ouvinte, uma vez que exploravam a expressividade natural das subidas e descidas de altura, do registro da voz e das mudanças de ritmo e andamento. (Veja o texto abaixo: O Teatro Grego).

A partir daí Galilei passou a ter aversão à forma polifônica, afirmando que essa escrita prejudicava o entendimento do poema e que por isso não causava as emoções que a música dos gregos causava ao homem. Galilei também se baseava na afirmação de Platão de que na música vocal a melodia deve servir as palavras.

Com base, portanto, no que imaginava ter sido o papel da música no teatro grego, a Camerata formulou alguns princípios básicos:

- Deveria haver uma união perfeita entre texto e música para que essa permitisse ser perfeitamente compreensível, propunham-se a declamação solista e monódica; adoção de melodias simples executadas por poucos instrumentos; e a exclusão do contraponto.

- o texto deveria ser declamado aderindo às inflexões naturais da fala. A melodia deveria, portanto acomodar-se a frase, e não o contrário. Isso excluía os ritmos de dança frequentemente impostos às canções e também as repetições, que eram comuns nos madrigais e nos motetos.

- A música não deveria limitar-se a acompanhar graficamente o andamento do texto e, sim, tentar exprimir o estado de espírito de cada trecho, imitando e acentuando as entonações típicas de uma pessoa que esteja sob o efeito de determinada emoção.

Com base nestes princípios surgi, em 1607, a primeira ópera: Orfeu de Claudio Giovanni Antonio Monteverdi (1567-1643). Monteverdi foi o maior compositor italiano da primeira metade do século XVII.